⁠No Limiar dos Dias Aprendemos que a vida não é um… Psicóloga Aline Vicente CRP 1220020

⁠No Limiar dos Dias
Aprendemos que a vida não é um carnaval contínuo.  
Há horas em que o corpo se ergue como trincheira,  
as pernas inquietas tecem labirintos sem chão,  
e os pensamentos, cavalos desgovernados,  
rasgam a madrugada com cascadas de talvez.  
Então, o mundo se cinde:  
de um lado, o véu da fantasia,  
onde os desejos são sussurros em chamas, do outro, o chão da realidade, cujas raízes sangram números, horas, cicatrizes.  
A conta chega não em moedas, mas em peso.  
E se você não se posiciona, o tempo se pociona por você, assim como rio que não retrocede, esculpe suas margens em seu lugar.  
Não há escapatória:  
é preciso largar a pedra que carrega, aquela que entala o peito e finge ser abrigo,  
e seguir com o rio, entregar-se à correnteza que arrasta  
até o mar, onde o sal dissolve certezas e o infinito é um útero de recomeços.  
Pois só quem solta o lastro do controle descobre que navegar  
é também ser navegado pela força que move planetas e ciclos: a arte sagrada de fluir.

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