O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) usou as redes sociais para criticar a prisão do general da reserva Walter Braga Netto. Em publicação no Twitter/X, o ex-chefe do Executivo questionou os argumentos usados pela Polícia Federal (PF) e pelo ministro Alexandre de Moraes para justificar a detenção do militar.
“Como alguém, hoje, pode ser preso por obstruir investigações já concluídas?”, perguntou Bolsonaro, referindo-se ao inquérito da PF. Há dez dias, a corporação concluiu o inquérito que culminou no indiciamento de 37 pessoas.
De acordo com o ex-presidente, a ação da Polícia Federal levanta dúvidas sobre a base legal para a detenção de Braga Netto. A operação se baseou em novas revelações do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro. Cid, em sua delação premiada, afirmou que Braga Netto tentou obter informações sobre o conteúdo dos depoimentos à PF, que permanecem em sigilo.
Com a autorização de Moraes, a Polícia Federal prendeu Braga Netto no Rio de Janeiro. Ele está detido sob a custódia do Exército, acusado de interferir nas investigações. A defesa nega a acusação e afirma que o general possui meios para provar que não buscou influenciar as investigações. Contudo, os advogados só se manifestarão oficialmente depois de terem acesso à íntegra dos documentos da acusação.
É a primeira vez que um general 4 estrelas vira alvo de uma operação dessa magnitude, com pedido de prisão sem o amparo de provas.
Entenda o caso Braga Netto
A Polícia Federal prendeu Braga Netto hoje cedo. Ele foi indiciado no inquérito que investiga uma suposta trama golpista. Durante a operação, agentes realizaram buscas em sua residência.
A prisão ocorreu em Copacabana, na zona sul do Rio de Janeiro. Depois de ser detido, Braga Netto foi encaminhado ao Comando Militar do Leste, onde ficará sob custódia do Exército.
Em sua defesa, o general nega as acusações. Ele declarou que nunca se tratou de golpe, “muito menos de plano de assassinar alguém”.
A investigação
Segundo o relatório da Polícia Federal, Braga Netto tentou obter informações sobre o acordo de colaboração do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro. De acordo com a PF, essa tentativa ocorreu por meio dos pais de Cid.
O relatório final da investigação, que indiciou Bolsonaro, Braga Netto e outras 35 pessoas, afirma o seguinte: “Outros elementos de prova demonstram que Braga Netto buscou, por meio dos genitores de Mauro Cid, informações sobre o acordo de colaboração”.
Em mensagens trocadas, o general Mario Fernandes, também indiciado no caso, relata que os pais de Mauro Cid teriam entrado em contato com Braga Netto e com o ex-ministro Augusto Heleno para negar o conteúdo da delação.
“Sobre a suposta delação premiada do Cid: a mãe e o pai dele ligaram para o Braga Netto e para o Augusto Heleno, informando que é tudo mentira!”, escreveu Fernandes ao coronel reformado Jorge Luiz Kormann, em 12 de setembro. A mensagem foi enviada três dias depois de o ministro Alexandre de Moraes, do STF, homologar a delação de Mauro Cid.
PF apreendeu documentos na sede do PL
Durante uma operação de busca e apreensão na sede do Partido Liberal (PL), a PF encontrou um documento que seria um roteiro de “perguntas e respostas” relacionado à delação de Mauro Cid. O material estava na mesa do coronel Flávio Peregrino, assessor de Braga Netto à época.
O relatório da PF mostra haveria um esforço do grupo para acessar informações do acordo de colaboração. “O conteúdo indica se tratar de respostas dadas por Mauro Cid a questionamentos feitos por alguém possivelmente relacionado ao general Braga Netto, evidenciando a preocupação do grupo com temas ligados à tentativa de golpe de Estado”, alega a corporação.
Em um dos questionamentos, interpelaram Cid sobre “o que foi delatado” em relação às reuniões. A resposta, supostamente de Cid, dizia: “Nada, porque não entrava nas reuniões”.
A Polícia Federal acredita que Mauro Cid foi diretamente consultado sobre os detalhes de sua colaboração com a PF. “O contexto do documento revela que perguntas relacionadas ao acordo de colaboração foram respondidas pelo próprio Mauro Cid”, alega a corporação.