Bravatas de Lula ameaçam relações com os EUA, diz especialista

O aumento das tarifas sobre produtos brasileiros imposto por Donald Trump e as recentes declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva intensificaram as tensões diplomáticas entre Brasil e Estados Unidos.

Em entrevista ao Jornal da Oeste desta quarta-feira, 12, o mestre em Direito Internacional e especialista em relações exteriores, Pedro Pereira Gomes, analisou a situação e apresentou caminhos para contornar a crise.

Segundo ele, a decisão de Trump tem um pano de fundo econômico e estratégico. “Os EUA, nesse momento, têm uma dívida muito alta”, explicou. “O PIB dos Estados Unidos é muito alto, está na casa de US$ 27 trilhões, mas a dívida está na casa de US$ 36 trilhões, está acima dos 100%.”

A medida de Trump afeta diversos parceiros comerciais, como o Brasil, um dos maiores exportadores de aço e alumínio para os EUA. “O Brasil tem os EUA como seu segundo maior parceiro comercial, tanto em questão de importações quanto de exportações”, entende. “É algo contornável, mas é algo a se prestar muita atenção.”

Outro fator que complica a situação é o posicionamento de Lula, que não hesitou em atacar diretamente Trump. Durante o período eleitoral norte-americano, Lula afirmou que o candidato republicano representava o “nazismo com outra cara”. Embora tenha moderado o tom depois da posse de Trump, o brasileiro voltou a adotar uma postura de confronto.

Durante discurso a apoiadores nesta quarta-feira, 11, Lula declarou que “não adianta o Trump ficar gritando de lá”, porque o presidente aprendeu “a não ter medo de cara feia”. Para Pereira Gomes, essa abordagem pode não ser a mais eficaz. “A estratégia que o Brasil está adotando nessas falas é de contrapor em um mesmo preço”, diz. “Só que o Brasil tem mais a perder com os EUA do que o contrário.”

As consequências diplomáticas do tom agressivo de Lula

A economista Marina Helena, comentarista de Oeste, pontuou que a política tarifária de Trump é mais ampla do que apenas uma tentativa de arrecadação de impostos. “Trump está bastante preocupado em cortar gastos”, ressaltou.

Marina ainda pontuou o caráter de barganha da medida. “A questão das tarifas tem também uma outra dimensão, que é geopolítica, envolvendo a negociação de outros aspectos”, destacou. “Vale lembrar que as tarifas nos EUA são muito mais baixas do que nos demais países.”

Diante do impasse, Pereira Gomes sugeriu que o governo brasileiro adote uma abordagem mais diplomática e pragmática. “Talvez a intenção de Lula tenha sido dar uma resposta interna a essa questão de como vai afetar os mercados brasileiros”, contemporizou. “E argumentos ad hominem não são a melhor resposta para atacar o problema.”

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Pedro mencionou um conceito clássico de negócios internacionais para exemplificar sua análise: “Um livro de negociação, muito usado no campo internacional, se chama Como Chegar ao Sim“, citou. “Uma das técnicas mais comentadas é: separe as pessoas do problema. Talvez atacar o problema, ao invés das pessoas, seja a solução mais adequada.”

A solução sugerida por Pereira Gomes envolve tratativas bilaterais para tentar reduzir as tarifas e, ao mesmo tempo, buscar alianças regionais com outros países afetados pelas medidas dos EUA. “O poderio do Brasil, que tem uma diplomacia muito forte (…) tem capacidade de reverter isso nos bastidores”, concluiu.

Pedro explicou que, a curto prazo, a medida pode gerar crescimento econômico nos EUA, reduzir o déficit comercial e estimular a produção interna, mas também pode aumentar a inflação norte-americana. “Há a retaliação comercial de diversos países, como já estamos começando a ver”, observou. “Essa retaliação comercial pode ser feita pelo Brasil também.”

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