MEDIUNIDADE E PSICOLOGIA. Autor: Marcelo Caetano M… Marcelo Caetano Monteiro

MEDIUNIDADE E PSICOLOGIA.
Autor: Marcelo Caetano Monteiro.

A interface entre mediunidade e psicologia constitui um dos campos mais densos da reflexão humana, pois nela se articulam fenômenos do espírito e fenômenos da consciência. A psicologia, desde suas origens clássicas, dedica­se ao estudo das funções mentais, dos estados interiores, dos dinamismos afetivos e da arquitetura complexa do eu. A mediunidade, por sua vez, conforme delineada por Allan Kardec na edição de 15 de janeiro de 1861 de O Livro dos Médiuns, descreve a faculdade pela qual o ser humano serve de instrumento às inteligências desencarnadas, facultando intercâmbios entre planos de vida distintos.

Quando tais domínios são cotejados, revela­se um ponto axial. A mediunidade não é mera expressão patológica ou produto de dissociação psíquica. Kardec, apoiando­-se em observação rigorosa, já asseverava que a faculdade mediúnica é orgânica e moral, reclamando disciplina, educação da sensibilidade e maturidade interior. A psicologia contemporânea, ao aprofundar o estudo das percepções extra­sensoriais e dos estados ampliados de consciência, oferece instrumentos conceituais que auxiliam no discernimento entre manifestações autênticas e perturbações do psiquismo.

Assim, tornar-­se indispensável compreender a mediunidade como campo de responsabilidade ética. Tal responsabilidade exige o cultivo do caráter, a ponderação racional, a higiene mental e a delicadeza espiritual que preserva o médium de projeções, ilusões e devaneios egóicos. Quando as emoções se tornam caóticas, a faculdade se turva; quando o espírito se pacifica, emerge mais límpido o influxo das vozes superiores. Nesta tensão entre profundidade psicológica e verticalidade espiritual reside a grandeza do fenômeno.

A psicologia contribui, portanto, ao oferecer métodos de autoconhecimento, ao iluminar os condicionamentos afetivos e ao mostrar como a vida interior necessita de uma ordem sólida. A mediunidade, em contrapartida, amplia o horizonte humano, mostrando que a consciência não se encerra no tecido cerebrado, mas dialoga com uma dimensão maior. Onde ambas se encontram, nasce uma antropologia integral do ser humano: um ser que pensa, sente, sofre, transcende e participa de uma realidade que ultrapassa as fronteiras do visível.

Que este binômio, mediunidade e psicologia, seja sempre compreendido como tarefa de elevação intelectual e refinamento moral, para que o espírito encontre a sua própria forma de perpetuação luminosa.

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