PF apura exigência de propina por CPI das Bets; Soraya Thronicke é investigada

A Polícia Federal abriu uma investigação sobre supostos pedidos de propina feitos por um lobista a empresários do setor de apostas esportivas on-line sob investigação da CPI das Bets, no Senado. Uma das vítimas é ligada ao cantor Gusttavo Lima, conforme apuração da Folha de S.Paulo.

A senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS), relatora da CPI, é uma das investigadas. Parentes do lobista Silvio Barbosa de Assis trabalham no gabinete da parlamentar. Ela já foi à Polícia Federal e disse que colocou seu sigilo bancário e telemático à disposição da corporação depois que as denúncias vieram à tona.

Silvio Barbosa de Assis, o lobista investigado, é um empresário com atuação nos bastidores políticos de Brasília. Ele foi preso pela Polícia Federal em 2018 e é réu no Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1), sob acusação de cobrar propina para registrar sindicatos de forma ilegal junto ao Ministério do Trabalho.

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Uma das vítimas da tentativa de extorsão, que preferiu não ser identificada, contou à Folha que foi abordada por Assis no final de novembro, em uma reunião no escritório do lobista em Brasília. Ele teria alegado ter influência sobre senadores da CPI das Bets e pedido R$ 50 milhões para evitar a convocação e possível indiciamento do empresário.

Assis, por sua vez, negou ter pedido qualquer propina. Segundo ele, as alegações de extorsão seriam relacionadas ao seu projeto de documentário. “Eu estou fazendo um documentário, que já está bem adiantado, e vou fazer proposta para a Netflix, Prime Video e Globoplay”, disse ele à Folha

O lobista afirmou estar ouvindo algumas bets para o projeto. “Quanto a isso de ‘ah, fez extorsão’, deve ser o meu documentário.” Assis questionou ainda como poderia extorquir se não é senador ou membro da CPI e afirmou que um empresário do setor de apostas on-line o procurou com o intuito de contratá-lo para cuidar das relações institucionais da empresa, devido à abertura da CPI das Bets, mas que a negociação não avançou.

A Polícia Federal investiga a senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS), relatora da CPI das Bets, por suspeita de envolvimento com pedidos de propina
CPI das Bets foi instalada em 12 de novembro | Foto: Lula Marques/Agência Brasil

Soraya Thronicke nega acusações

Soraya Thronicke, escolhida para relatora da CPI por ser a autora do pedido de abertura da investigação, nega as acusações. Ela e Silvio Assis se conhecem há cerca de quatro anos, e a senadora contratou a irmã e o genro do lobista, Sandra Assis e Davi Vinicius de Oliveira, para trabalharem em seu gabinete.

Em resposta às acusações, Soraya disse que qualquer uso indevido de seu nome para pedir propina é “uma acusação muito séria e grave” e que “quem afirma isso tem o dever de apresentar provas”.

Ela afirma também que “há várias pessoas poderosas, inclusive políticos, envolvidas em crimes de lavagem de dinheiro por meio de bets” que estariam “gastando milhões na mídia para tentar abalar a minha credibilidade, o que não vão conseguir”.

A senadora declarou ainda que, ao tomar conhecimento de investigações sobre propina, procurou imediatamente o diretor-geral da Polícia Federal (PF), Andrei Rodrigues, e se colocou à disposição para colaborar, autorizando a quebra de seus sigilos fiscais, bancários e telemáticos. “Pedi também a realização de uma acareação entre os citados, pois precisamos provar quem realmente tem a verdade”, disse ela. 

Sobre a contratação dos familiares de Assis, Soraya destacou que o fez com base no “perfil técnico e profissional de ambos” e que conheceu Silvio por meio de outros senadores. O lobista, por sua vez, afirmou conhecer bem o ambiente político no Senado, inclusive membros da CPI das Bets, e sugeriu que as denúncias contra ele possam ser uma tentativa de perseguição à senadora Soraya.

“Não sei se é uma perseguição contra a senadora, entendeu?”, disse ele à Folha. “Contra ela não vão achar nada; contra mim, não tem.” A investigação sobre o lobista e sua relação com a CPI das Bets foi inicialmente levantada pela revista Veja

Nos últimos dias, os rumores sobre pedidos de propina foram levados ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), por pelo menos quatro senadores. Um deles revelou que Pacheco conversou com o diretor-geral da PF e pediu agilidade nas apurações. 

Pacheco teria se mostrado preocupado com a gravidade da acusação e dito que uma denúncia dessa natureza prejudica a imagem do Senado e de todos os parlamentares, não apenas dos envolvidos na denúncia. Outro senador que discutiu o assunto com o presidente do Senado falou que ele indicou a necessidade de aguardar as investigações antes de fazer qualquer julgamento.

Em resposta, a Polícia Federal declarou que “não se manifesta sobre eventuais investigações em curso”.

CPI das Bets tem pouco mais de um mês

Além da CPI das Bets, outra comissão no Senado investiga suspeitas de manipulação de apostas esportivas e de partidas de futebol. No entanto, a CPI das Bets, criada em 12 de novembro, concentra suas investigações sobre a influência das apostas no orçamento das famílias e possíveis práticas de lavagem de dinheiro. 

Em pouco mais de um mês, a comissão fez seis sessões e ouviu três empresários ligados às bets. Delegados envolvidos nas investigações sobre apostas esportivas e membros do governo Lula também prestaram depoimento, assim como o presidente da Loteria do Estado do Rio de Janeiro (Loterj), Hazenclever Lopes Cançado.

As suspeitas de pedidos de propina geraram constrangimento no Senado e levaram o vice-presidente da CPI das Bets, senador Alessandro Vieira (MDB-SE), a encaminhar à Procuradoria-Geral da República (PGR) um pedido de investigação. Vieira afirmou que, dada a gravidade das denúncias, a PGR deveria investigar os fatos de imediato e adotar as medidas cabíveis caso as acusações sejam confirmadas.

O presidente da CPI das Bets, senador Hiran Gonçalves (PP-RR), disse que as suspeitas devem ser investigadas. “E temos que trabalhar muito para regulamentar essa jogatina desenfreada e sem regras claras no país”, completa. 

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