Como passado da Antártica ajuda a entender futuro do clima, segundo estudo

Um estudo recente sobre a camada de gelo da Antártica Ocidental mostra que essa região, embora estável nas últimas décadas, apresentou mudanças significativas há milhares de anos. A pesquisa – sobre a qual Dan Lowry (GNS Science) e Holly Han (NASA) escreveram um artigo, publicado no The Conversation – aponta um recuo antes de um avanço. E isso pode ajudar a entender consequências das mudanças climáticas.

Para quem tem pressa:

Um estudo recente sobre a camada de gelo da Antártica Ocidental revelou que, embora essa região tenha sido estável nas últimas décadas, experimentou mudanças significativas há milhares de anos;

Os pesquisadores identificaram um período de recuo da camada de gelo há cerca de sete mil anos, seguido por um avanço que levou à posição atual nos últimos dois mil anos. Essas flutuações são cruciais para compreender como mudanças futuras podem ocorrer em resposta ao aquecimento global;

A pesquisa explorou duas hipóteses principais para o recuo e avanço histórico da camada de gelo. A primeira relaciona-se com a elevação da crosta terrestre sob a camada de gelo à medida que esta se reduzia. A segunda considera as mudanças oceânicas e a formação de gelo marinho como fatores determinantes, que afetam a mistura com correntes oceânicas quentes;

As descobertas têm implicações significativas para as políticas climáticas atuais. Embora estudos recentes sugiram que o derretimento em algumas áreas da Antártica Ocidental possa ser irreversível, os pesquisadores argumentam que ainda é prematuro abandonar esforços de mitigação.
(Imagem: Reprodução/The Conversation)

Em suma, os pesquisadores explicam que a camada de gelo recuou centenas de quilômetros há aproximadamente sete mil anos – e, ao longo dos últimos dois mil anos, avançou para sua posição atual. Essa flutuação é crucial para entender como as mudanças futuras podem ocorrer em resposta ao aquecimento global.

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A pesquisa enfatiza a importância de prevenir o aquecimento oceânico antes que ele ocorra – o que ainda é possível por meio da escolha de um futuro de baixas emissões. Tal abordagem poderia evitar repetições das mudanças dramáticas observadas milhares de anos atrás na camada de gelo da Antártica Ocidental.

Para lá e para cá na Antártica

(Imagem: José Jorquera/Universidad de Santiago de Chile)

A pesquisa explorou duas hipóteses principais para explicar o recuo e avanço histórico da camada de gelo.

A primeira teoria relaciona-se com a resposta da crosta terrestre às mudanças na massa da camada de gelo. Conforme a camada de gelo se reduzia, a crosta abaixo dela se elevava lentamente. Simultaneamente, o nível do mar próximo diminuía devido à redução da atração gravitacional entre a camada de gelo e a água do oceano.

A segunda hipótese considera as mudanças oceânicas como fatores determinantes. A formação de gelo marinho expulsa sal para camadas inferiores de água, tornando-as mais pesadas e impedindo a mistura com correntes oceânicas quentes que poderiam derreter o gelo da plataforma. Análises de sedimentos e núcleos de gelo sugerem que essa mistura era menos intensa no passado quando a camada de gelo recuava.

Por dentro do estudo

(Imagem: Derek Oyen/Unsplash)

Os cientistas utilizaram simulações de modelos computacionais para testar essas teorias, ajustando as condições para refletir a viscosidade do manto terrestre sob a Antártica Ocidental. Os resultados que mais se alinhavam aos registros geológicos indicavam um manto mais viscoso e um oceano mais quente durante os períodos de recuo da camada de gelo.

Essas descobertas têm implicações significativas para as políticas climáticas atuais. Estudos recentes apontam que o derretimento das geleiras na Antártica Ocidental pode ser irreversível em algumas áreas. Isso levantou debates sobre se as políticas deveriam se concentrar mais em adaptação ao aumento do nível do mar do que na redução de emissões de gases de efeito estufa.

Contudo, os pesquisadores argumentam que é prematuro abandonar esforços de mitigação. Modelos climáticos globais, rodados sob cenários de altas emissões, mostram redução na formação de gelo marinho e na mistura oceânica, condições similares às que levaram ao recuo histórico da camada de gelo.

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